
Sem fé não há milagre
Testemunho
Aos 22 dias de agosto de 1985, nascia eu no Hospital do Sesi, que hoje é o famoso Hospital Memorial Arthur Ramos, recebendo o nome de Lucas Jones de Messias Ramos, dado por meus pais, José Ramos da Silva e Maria de Lourdes de Messias Ramos. Vim ao mundo pesando 800g, isso mesmo, GRAMAS, aos 7 meses da gestação, disseram que eu cabia tranquiliamente e sobrando espaço dentro de uma caixa de sapatos. Minha luta pela sobrevivência começa ai, os médicos disseram para minha mãe: - De hoje ele não passa! Imaginem o desespero dos meus pais, minha mãe já tinha perdido outros bebês e agora mais um. Não sabia ela que tinha alguém muito especial cuidando de tudo e preparando todas as coisas. Minha vó Dnª Júlia Efigênia de Messias, conhecida como Dnª Julita, começou a interceder a Deus pela situação que estavam vivendo, como crente em Jesus ela nunca desanimou e com muita fé orava mais e mais por mim. Um certo dia, um médico disse para minha mãe: - Esse menino está desafiando a medicina, pega teu filho e vai pra casa! Imaginem a cena, eu estava querendo lutar box (risos), a mão de Deus estava no controle de tudo, lembram da pessoa especial que citei acima? Pois é, isso mesmo, é esse Deus maravilhoso, digno de todo louvor.
Já em casa e com o passar dos meses, comecei a sentir muitas dores e chova muito, foi descoberto infecções urinárias, e isso uma atrás da outra. Até que nesses tratamentos descobriu-se que eu só tinha um rim e meu ureter estava estreito, por isso a causa de várias infecções urinárias. Então veio a notícia, precisa fazer uma cirurgia às pressas, para colocar um stent mas meu porte físico e a fraqueza não permitia, e meus pais mais uma vez em desespero e angustia tiveram que enfrentar essa situação assinando um termo de responsabilidade pela cirurgia porque eu poderia não voltar para os braços deles. Foi feita a cirurgia e ocorreu tudo bem, Deus havia preparado tudo, mas devido a incredulidade eles não enxergavam o agir de Deus. Agora o único rim que eu tinha era a grande preocupação, o mesmo, não era saudável, tinha hidronefrose (água nos rins), má formação, entre outros problemas. Em 86 nasce minha irmã, Lívia Joane.
Comecei a fazer tratamento conservador com a Drª Viviane Vasconcelos, nefrologista pediátrica, até os meus 18 anos, por desejo dela. Durante esse tempo tive uma vida normal comparando com as outras crianças e adolescentes, cresci normalmente, não muito, devido ao problema tenho somente 1,60 de altura. Minha vida embora “normal” tinha alguns cuidados como por exemplo a alimentação.
Aos 13 anos, meus pais decidem mudar para outra casa, devido alto preço do aluguel, a nossa separação do mundo para Deus, começa ai, quando mudamos para outro bairro. Meu pai vende o carro que tínhamos, um chevette amarelo, que não lembro de que ano era(risos) para comprar um terreno na parte alta de Maceió, no loteamento Acauã. Construímos um vão, os 3 quartos, a cozinha e o banheiro, um quarto era a sala, outro dormia eu e minha irmã e outro os meus pais, e a cozinha era do lado de fora dos quartos.
No dia 07 de Março de 98, minha mãe embora não fosse crente, mas foi criada ouvindo o evangelho através da minha vó Julia, sempre teve uma simpatia pela palavra de Deus, e em nossos aniversários, sempre vazia um culto, quando não era um culto propriamente dito, tinha sempre um momento para ouvir a Palavra de Deus. Neste aniversário, ou melhor, neste culto minha mãe entregou a sua vida a Jesus e o aceitou como único e suficiente Salvador. Começamos a frequentar a Igreja Batista Regular aqui mesmo no conjunto. Após alguns meses eu entreguei a minha vida a Jesus, em casa, após ouvir uma mensagem do Pr. Jonh David Leonard, o Pastor João, e por último minha irmã se rendeu a Jesus também. Hoje só meu pai ainda vive no mundo, mas cremos que o dia dele chegará, e quando esse dia chegar, será um dia extraordinário, desde já peço que orem por ele.
Completados os meus 20 anos, Drª Viviane me encaminhou para o nefrologista Dr. Ebeveraldo Amorim, que cuidou de mim por 6 anos. Durante o ano eu fazia exames e consultas de três em três meses ou mais ou menos meses de intervalo, e os cuidados com a alimentação continuavam. Fiz o curso técnico em patologia clínica, e após alguns anos de procura e espera, Deus abriu as portas na Santa Casa de Misericórdia de Maceió em 2009.
Em 2011 em uma dessas consultas e exames de rotina, veio a pior notícia da minha vida, palavras do Dr. Ebeveraldo: “Lucas, com essas taxas altas de creatinina, uréia, fósforo e potássio, você terá que começar o tratamento de HEMODIÁLISE”. Nossa! Eu não sabia o que começar a pensar. No meu trabalho eu tinha que ir nos setores entregar bolsas de sangue para transfusão sanguínea, e muitas vezes fui no setor de hemodiálise, e sempre que eu ia, pedia a Deus que eu nunca passasse por aquilo, porque conheci uma paciente e ficamos amigos e eu via o sofrimento dela e não queria passar por isso também, mas ao mesmo tempo, no fundo, eu sabia que teria que enfrentar a hemodiálise, só não sabia quando seria.
Voltando ao dia da notícia, tirei minhas dúvidas com o médico, e sentia algo me confortando, me dando uma tranquilidade inexplicável. Sai do consultório e comecei a orar e pedir a Deus que tomasse a frente e que eu confiava nEle. Ao chegar em casa tinha que dar a notícia aos meus pais. A primeira a saber foi minha mãe, que ao ouvir, ficou sem ação, não sabia o que fazer, acho que passava na cabeça dela: “Não acredito, tudo de novo! Segundo meu pai, que não queria aceitar, queria ver outra alternativa para não fazer hemodiálise. No dia seguinte repeti os exames e tudo estava confirmado, isso em fevereiro de 2011.
No dia 7 de fevereiro, aniversário de casamento dos meus pais, eu fui para clínica de hemodiálise a unirim. Me internei para colocar um cateter, para iniciar a hemodiálise. Meu sofrimento começou ai, ao chegar no centro cirúrgico para implantação do cateter. Durante o procedimento senti uma dor enorme, mesmo com os anestésicos, o médico tinha a mão pesada, e nessa hora eu comecei a chorar desesperadamente, a ficha caiu! Comecei a me lembrar da minha amiga da Santa Casa, o sofrimento dela, que por muitas vezes eu duvidei achando que era invenção. Enquanto eu estava lá dentro, minha mãe me aguardava do lado de fora, e estava escondida em um lugar, chorando também, sem saber que lá na sala eu também estava chorando. O médico tentou implantar no meu pescoço, mas sem sucesso, conseguiu próximo a clavícula, do lado direito. Sai do centro cirúrgico aos prantos, e ao ver minha mãe, chorava mais forte ainda, não conseguia falar nada, só sentia dor, meus pensamentos estavam a mil por hora. Pensava, o que seria de mim daquele dia em diante.
Cheguei no quarto do hospital ainda aos prantos e estava uma amiga me esperando, que cena! Ela nunca me viu daquele jeito, mas estava lá para ajudar, seu nome Nathália Camilo, que estava se segurando para não chorar diante do que estava vendo.
No dia 9 de fevereiro fiz minha primeira sessão de hemodiálise, foi tranquilo graças a Deus e fui afastado do trabalho pelo auxilio doença e fiquei fazendo as sessões as terças, quintas e sábados pela manhã durante 3h e meia, por 3 anos e 6 meses. Uma escravidão, minha vida mudava completamente, me tornei escravo de uma máquina e que me fazia depender dela para viver, poder dormir e acordar. Depois de alguns dias me internei novamente para fazer a fístula artério venosa. A minha foi feita no braço esquerdo, e com 40 dias comecei a dialisar pelo braço, pela fístula. O começo foi difícil, minha fístula nova, 6 punções por semana, uma furada horrivel no braço, a agulha grossa e extravasava muito, sentia muita dor no braço, chegava em casa com o braço inchado e roxo, quando isso acontecia, desanimava, mas logo o Senhor me animava, tinha dia que eu chegava em casa muito mal, vomitando, com enxaqueca, corpo mole e muito fraco, mas eu confiava num Deus sustentador, que nunca me desamparou. Vi um senhor morrer na minha frente, aquilo foi assustador e de repente, sempre ficavámos sabendo do que acontecia com os pacientes, sabiamos quando eles passavam mal ou que estavam na uti, até que ficavámos sabendo que tinha falecido. Saber dessas coisas era triste e constrangedor, por que poderia ser qualquer um e mais arrasador quando acontecia com pessoas que tinhamos laços de amizades. Me recordo de alguns nomes, seu Armando, Agnaldo, Geraldo, nossa amiga Lia, seu Adelmo entre outros. Oro que Deus eseteja confortando sempre a familia disses amigos. Tínhamos momentos felizes na clinica, as vezes comemoravámos os aniversários do nosso grupo, saiamos quando pudiamos e o mais legal era as amizades que faziamos lá, tanto com os pacientes, como com os funcionários, afinal, era nossa segunda casa.
Começamos a correria pelo transplante, os que se dispuseram foram 4 pessoas, meu pai, meu tio Antônio Carlos, meu tio José Messias e meu primo Klênio. Dos quatro, três foram compatíveis comigo, meu pai, meu tio Antônio e meu primo Klênio, todos da família da minha mãe, pois os da família do meu pai ninguém se dispôs, o que me deixou um pouco desanimando. Mas Deus sempre no controle da situação.
Meu pai foi o primeiro, começou a realização dos exames, tudo dando certo, depois de tudo pronto, na última consulta com urologista, e com data do transplante marcada, o médico pede a repetição de uma tomografia, só para ele se situar na cirurgia. Meu pai fez a repetição e o resultado foi o que ninguém esperava, apareceu um cálculo renal, ou seja, meu pai não pôde mas ser meu doador. Momento de frustação, angústia e de questionamentos. E Deus sempre nos confortando.
Partimos para o segundo, meu tio Antônio. Fez todos os exames, tudo dando certo, e ao fazer o último exame, ficamos muito felizes. Eis o resultado, ele tem duas artérias nos dois rins. Até ai nenhum problema, os médicos nos reuniram e nos indicaram fazer o transplante em São Paulo, por ser um centro de referência. Estava nas mãos de Deus e nas do meu tio, mas a resposta final era a vontade de Deus. Meu tio decidiu não ir para SP, ou seja, desistiu da doação. Ficamos arrasados, não com raiva dele, tristes, sem saber o que pensar ou fazer nesse momento. Só tínhamos uma coisa a fazer, continuar a confiar no Senhor que dizia, “ainda não é a hora, descansa em mim”.
Tínhamos mais um, meu primo que estava disposto, começamos os exames, mas ele estava com problemas trabalhistas e precisou fazer uma cirurgia no joelho, o que demorou para continuar os exames, devido a sua recuperação.
Começamos a ver outra possibilidade, e decidimos ir a SP, fazer o cadastro na lista de espera de transplante por lá, marquei a consulta para o dia 19 de setembro de 2014. Estava tudo certo, só estava esperando a liberação das passagens pelo TFD (Tratamento Fora do Domicilio) do governo do estado de Alagoas.
A última semana do mês de Julho de 2014, foi uma semana diferente pra mim, eu me sentia bem, uma tranquilidade tremenda, estava feliz, mas algo me dizia que iria acontecer alguma coisa, só não sabia o que era. No dia primeiro de agosto, às 8h da manhã, meu celular toca, eu ainda estava dormindo, acordei, peguei o celular para atender, vi que o número não era conhecido e atendi. Para minha surpresa era o Dr. Agenor que disse essas palavras, “Lucas é o Dr. Agenor, apareceu um rim pra você, quer transplantar? Venha pra cá que está tudo pronto, só falta você, o rim já chegou, venha embora.” Nossa! Que ligação! Não sabia por onde começar, se ria, se chorava de alegria, se avisava meus pais, quanta coisa para fazer em frações de segundos. Me segurei para não chorar, fui até a área de casa e minha mãe estava lá, lavando, eu cheguei e disse, “pare tudo, que eu vou transplantar”! Minha mãe a regalou os olhos, ficou sem ação, parecia que ia desmaiar, sai de sua presença e ela ficou dando glória a Deus e exaltando a seu nome. Fui a procura do meu pai, e avisei a ele. Fui tomar banho e debaixo do chuveiro comecei a glorificar, exaltá-lo e bendizer o seu nome. E nesse dia, primeiro de agosto, mês do meu nascimento, outro nascimento, Deus me abençoou com esse presente maravilhoso, minha saúde de volta. A recuperação foi maravilhosa, a equipe médica foi surpresa, tudo muito rápido, o rim funcionando bem, eu estava bem e com 13 dias recebi alta e liberado para vim pra casa.
Não termino por aqui, quero dizer que durante esses 3 anos e 6 meses, Deus sempre mostrou seus cuidados, permitiu que eu nunca passasse mal, como eu via nos dias de hemodiálise, pessoas que não se cuidavam e que iam parar numa UTI. Vi pessoas morrerem na minha frente, ouvi pessoas culparem a si mesmas e até Deus pelo que estavam passando. Mas eu nunca culpei ninguém, pelo contrário, durante todo esse tempo eu estava enfrentando esse período com tranquilidade, podia contar com minha família, minha igreja, meus amigos e minha namorada Mariana Gomes, que me aceitou do jeito que sou e escolheu enfrentar comigo essa luta. Sempre estive nos caminhos do Senhor, servindo-o com dedicação e amor, nunca usei as minhas limitações para não fazer a obra, não deixei de estudar, frequentar a faculdade, a igreja, de sair com os amigos. Nunca me isolei, claro que tem aqueles dias que ficamos tristes e desanimados, mas nunca, nunca deixei de sorrir e de louvar o Senhor. A minha fé supera tudo o que eu passei, a psicóloga da clínica, me admira muito, muitas vezes ela me questionava, “Lucas Jones que força é essa que você tem? Que tudo está bem pra você, que vive sorrindo, você nunca reclama de nada. Passa uma segurança e uma tranquilidade enorme.” Eu respondi a ela, Eu tenho um Deus que pode todas coisas, que me sustenta, que me mantem de pé, que fortalece a minha fé dia após dia e que minha vida pertence a Ele e tudo é para honra e glória Dele.
Durante esse tempo eu nunca, nunca mesmo, abre minha boca para questionar a Deus, porque isso comigo? porque esse sofrimento? Jamais reclamei com Deus, tenho sempre comigo aquela reposta de que Deus dá a Paulo, “a minha graça te basta”! Pensava que eu não tinha que fazer nada, era a vontade de Deus ali, ela não deixaria de ser adorado por mim, por causa disso.
Deus tem sempre o melhor pra nós, não precisamos fazer perguntas, por mais difícil que seja, devemos descansar e confiar. Deus sempre foi adorado por mim e continuaria sendo se nada disso tivesse acontecido, se ainda estivesse dialisando.
QUE DAREI EU AO SENHOR, POR TODOS OS BENEFÍCIOS QUE ME TEM FEITO?
SALMO 116:12